quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Como ler partitura I - as claves

As claves desempenham um papel importantíssimo na composição da partitura, pois são elas as responsáveis por nos dizer quais são as notas que estão escritas na pauta. Não foi à toa que esta figura que inicia a escrita da pauta recebeu o nome de litterae clauis (letra-chave).

Sua origem remonta à antiga notação musical germânica, que iniciava e terminava sua escala com a nota  - herança do modo eólico grego. Dessa maneira, atribuiu-se às notas as letras do nosso alfabeto de A a G, em que o A representa a primeira nota () e o G representa a última nota (sol).  Esta notação germânica não só deu origem às claves, como também à cifra e ao próprio sistema musical dos países de cultura germânica, tais como: Alemanha, Inglaterra, Irlanda, EUA etc. Veja a correspondência: 


Si Ré     Mi Sol
A B C D E F G

Durante a Idade Média, a pauta musical não tinha um número fixo de linhas, mas era mais frequente o uso de uma pauta de 11 linhas. Como essa quantidade dificultava a leitura de primeira vista do músico, passou-se a reduzir esse número e a utilizar a letra C no início da pauta para dizer ao músico onde estava a nota central. Em seguida, outras letras dessa notação passaram a ser empregadas como claves, tais como F (clave de fá), G (clave de sol) e D (clave de ré).

Com o tempo, a forma de desenhar as claves se modificou consideravelmente, até assumir os formatos como hoje as desenhamos. Veja alguns desenhos de claves que não usamos mais:



Claves de  (à esquerda) e de  (à direita), ambas postas na 3ª linha. Esta forma de escrita provavelmente remonta ao século XIV.




Clave de  usada no século XV




Clave de  na 3ª linha, usada no século XVI e XVII




Clave de , usada até a década de 80





Clave de sol, usada durante a Renascença. Note-se que se pode perceber ainda o formato próximo a um G.



Estes são alguns exemplos de como se dá a mudança nos desenhos das claves, mas o importante é termos em mente o emprego que hoje elas possuem.

Atualmente empregamos três espécies de claves em sete diferentes situações. Vejamos:


A clave de sol é usada para todos os instrumentos agudos (que conseguem executar as notas da escala 4) e para os instrumentos que compõem sua série (de outras afinações e, consequentemente, mais graves). Ela é a clave das vozes femininas, do violino, da flauta, do flautim, do oboé, da clarineta, do trompete (ou clarim), do violão, da guitarra e de vários outros instrumentos. Pode acontecer de alguns descuidadosos inclusive escreverem suas partituras para instrumentos graves com esta clave, mas isto não é recomendado, pois certamente causa vários transtornos para o regente (maestro) e para os instrumentistas.




(em desuso) A clave de  na primeira linha é específica para o soprano, voz feminina mais aguda do coro de seis vozes. Atualmente está sendo substituída pela clave de sol.






(em desuso) A clave de  na segunda linha, assim como a anterior, é própria para a voz feminina, sendo seu uso reservado ao médio-soprano - timbre intermediário entre o soprano e o contralto.




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Como se pode perceber, a clave de  foi criada para representar a voz humana. Quando na terceira linha, seu uso servia para representar o contralto. No entanto, atualmente seu uso está restrito aos arranjos para viola.




A clave de  na quarta linha servia para representar o tenor, mas atualmente é utilizada para representar passagens agudas de instrumentos tenores, tais como: violoncelo, fagote, bombardino etc.





(desusado) A clave de  na terceira linha substituiu a clave de  na quinta linha, pois as notas eram exatamente as mesmas. Portanto, esta clave de  passou a ser usada para representar o barítono - voz masculina de timbre intermediário entre o tenor e o baixo.




A clave de  na quarta linha é usada para representar as vozes masculinas e os instrumentos tenores e baixos, tais como: violoncelo, contrabaixo,  fagote, contrafagote, bombardino, trombone, bombardão, tuba (ou sousafone), tímpano e outros semelhantes.



Muitos instrumentos, como o piano e a harpa, e até mesmo o canto coral, utilizam concomitantemente a clave de sol e a de . Isto se deve à grande tessitura que tais instrumentos apresentam, capaz de cobrir mais de sete oitavas. O grande órgão é o melhor exemplo de grande tessitura, pois ele sozinho pode produzir todos os sons musicais que o ouvido consegue distinguir, apesar ser um instrumento que não possibilita o manejo da dinâmica e possui um timbre tenebroso e sombrio.




Atualmente estas são as quatro situações que as três claves podem aparecer, mas isto não significa que podemos nos eximir de conhecer e praticar as que estão em desuso. O bom músico conhece e mantém a leitura de todas elas em dia, pois sabe que isto melhora (e muito) seu desempenho e sua habilidade musical.

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