domingo, 23 de novembro de 2014

Como ler partitura III - as figuras


As figuras musicais são peças essenciais na escrita da partitura, pois que possuem função dupla: mostra a posição da nota e o tempo de sua duração. Existem dois tipos de figuras: as figuras de som e as figuras de silêncio, conhecidas como pausas.

É muito importante que o iniciante na leitura e escrita musical não só memorize todos os conceitos relacionados às figuras, como também consiga compreender todos os pormenores.

Veja a correspondência entre as figuras de som (notas) e as figuras de silêncio (pausas) ambas:




A figura que possui o maior valor é a semibreve; as demais possuem valores que correspondem a uma parte da dela. Assim, a mínima vale a metade da semibreve, ou seja, duas mínimas equivalem a uma semibreve. É por isso que o número da semibreve é 1, e o número da mínima é 2.

O mesmo ocorre com as demais:
  • a semínima vale a metade da mínima;
  • a colcheia vale a metade da semínima;
  • a semicolcheia vale a metade da colcheia;
  • a fusa vale a metade da semicolcheia; e
  • a semifusa vale a metade da fusa.
Isso equivale dizer que são necessárias:
  • 2 mínimas para equivaler a uma semibreve;
  • semínimas para equivaler a uma semibreve;
  • colcheias para equivaler a uma semibreve;
  • 16 semicolcheias para equivaler a uma semibreve;
  • 32 fusas para equivaler a uma semibreve; e
  • 64 semifusas para equivaler a semibreve.

Desse modo, em vez de dizer o nome da figura podemos apenas dizer o número de divisões da semibreve, e já saberemos de qual figura estamos nos referindo. Veja novamente a tabela acima e compare-a com a imagem abaixo:




Além dessas figuras, há outras que valem mais do que a semibreve. Tais figuras raramente aparecem nas partituras modernas pelo fato de os compassos utilizados nas músicas populares não o permitirem. Tais figuras são: breve, longa e máxima.

Assim como a mínima vale a metade da semibreve, esta vale a metade da breve, e esta, a metade da longa. Por fim, a máxima vale o dobro da longa. Veja:





As figuras podem ser formadas por uma cabeça, uma haste e um colchete. Acontece que nem todas as figuras possuem todas essas partes, a não ser as da colcheia em diante, que são completas.




Em algumas situações, os colchetes aparecem sob a forma de uma barra horizontal, unindo duas figuras. Geralmente isso acontece para agrupar as figuras em unidades de tempo, a fim de facilitar a leitura.



Por fim, podemos nos perguntar: quanto tempo vale exatamente cada figura apresentada? A resposta para essa pergunta é: depende do compasso. Isso é um problema que se arrasta desde quando foi inventado o compasso há uns 400 anos atrás; é que cada compositor escolhia uma figura para ser uma unidade de tempo, fazendo com que os valores das demais figuras ficasse condicionada àquela escolhida.

Para entender melhor sobre compassos, clique aqui.


domingo, 16 de novembro de 2014

Como ler partitura II - a pauta


Como foi mencionado no artigo sobre as claves, a pauta é o suporte em que se escreve a partitura. Atualmente ela é formada por cinco linhas, daí o motivo pelo qual muita gente também lhe dá o nome de pentagrama.

As figuras tanto podem ser postas nas linhas, quanto nos espaços que elas formam. É importante lembrar, entretanto, que as linhas e os espaços são contados de baixo para cima (ao contrário do que ocorre com a tablatura, cujas linhas são contadas de cima para baixo), pois ambos servem de suporte para as notas. Veja:


Para reconhecermos as notas na pauta, faz-se necessária a presença de uma clave, pois é ela quem diz quais são as notas que aparecem na pauta. Não podemos nos esquecer de que a palavra clave significa chave. Ela é a chave da nota que está na linha onde ela repousa.




Como se pode perceber, estas cinco linhas da pauta são insuficientes para dar conta de todas as notas da tessitura do instrumento. Por esse motivo, são usadas linhas suplementares acima ou abaixo da pauta, a fim de dar conta da escrita das notas que não cabem no pentagrama. Veja:




Não é muito frequente, mas pode acontecer de o compositor ou arranjador escrever para alguns instrumentos de percussão numa pauta com menos de cinco linhas. Isso se deve ao fato de o instrumento não ter variação de timbre e à necessidade de poupar espaço no papel.

partitura para pandeiro



Veja também: Como ler partitura III - as figuras

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Como ler partitura I - as claves

As claves desempenham um papel importantíssimo na composição da partitura, pois são elas as responsáveis por nos dizer quais são as notas que estão escritas na pauta. Não foi à toa que esta figura que inicia a escrita da pauta recebeu o nome de litterae clauis (letra-chave).

Sua origem remonta à antiga notação musical germânica, que iniciava e terminava sua escala com a nota  - herança do modo eólico grego. Dessa maneira, atribuiu-se às notas as letras do nosso alfabeto de A a G, em que o A representa a primeira nota () e o G representa a última nota (sol).  Esta notação germânica não só deu origem às claves, como também à cifra e ao próprio sistema musical dos países de cultura germânica, tais como: Alemanha, Inglaterra, Irlanda, EUA etc. Veja a correspondência: 


Si Ré     Mi Sol
A B C D E F G

Durante a Idade Média, a pauta musical não tinha um número fixo de linhas, mas era mais frequente o uso de uma pauta de 11 linhas. Como essa quantidade dificultava a leitura de primeira vista do músico, passou-se a reduzir esse número e a utilizar a letra C no início da pauta para dizer ao músico onde estava a nota central. Em seguida, outras letras dessa notação passaram a ser empregadas como claves, tais como F (clave de fá), G (clave de sol) e D (clave de ré).

Com o tempo, a forma de desenhar as claves se modificou consideravelmente, até assumir os formatos como hoje as desenhamos. Veja alguns desenhos de claves que não usamos mais:



Claves de  (à esquerda) e de  (à direita), ambas postas na 3ª linha. Esta forma de escrita provavelmente remonta ao século XIV.




Clave de  usada no século XV




Clave de  na 3ª linha, usada no século XVI e XVII




Clave de , usada até a década de 80





Clave de sol, usada durante a Renascença. Note-se que se pode perceber ainda o formato próximo a um G.



Estes são alguns exemplos de como se dá a mudança nos desenhos das claves, mas o importante é termos em mente o emprego que hoje elas possuem.

Atualmente empregamos três espécies de claves em sete diferentes situações. Vejamos:


A clave de sol é usada para todos os instrumentos agudos (que conseguem executar as notas da escala 4) e para os instrumentos que compõem sua série (de outras afinações e, consequentemente, mais graves). Ela é a clave das vozes femininas, do violino, da flauta, do flautim, do oboé, da clarineta, do trompete (ou clarim), do violão, da guitarra e de vários outros instrumentos. Pode acontecer de alguns descuidadosos inclusive escreverem suas partituras para instrumentos graves com esta clave, mas isto não é recomendado, pois certamente causa vários transtornos para o regente (maestro) e para os instrumentistas.




(em desuso) A clave de  na primeira linha é específica para o soprano, voz feminina mais aguda do coro de seis vozes. Atualmente está sendo substituída pela clave de sol.






(em desuso) A clave de  na segunda linha, assim como a anterior, é própria para a voz feminina, sendo seu uso reservado ao médio-soprano - timbre intermediário entre o soprano e o contralto.




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Como se pode perceber, a clave de  foi criada para representar a voz humana. Quando na terceira linha, seu uso servia para representar o contralto. No entanto, atualmente seu uso está restrito aos arranjos para viola.




A clave de  na quarta linha servia para representar o tenor, mas atualmente é utilizada para representar passagens agudas de instrumentos tenores, tais como: violoncelo, fagote, bombardino etc.





(desusado) A clave de  na terceira linha substituiu a clave de  na quinta linha, pois as notas eram exatamente as mesmas. Portanto, esta clave de  passou a ser usada para representar o barítono - voz masculina de timbre intermediário entre o tenor e o baixo.




A clave de  na quarta linha é usada para representar as vozes masculinas e os instrumentos tenores e baixos, tais como: violoncelo, contrabaixo,  fagote, contrafagote, bombardino, trombone, bombardão, tuba (ou sousafone), tímpano e outros semelhantes.



Muitos instrumentos, como o piano e a harpa, e até mesmo o canto coral, utilizam concomitantemente a clave de sol e a de . Isto se deve à grande tessitura que tais instrumentos apresentam, capaz de cobrir mais de sete oitavas. O grande órgão é o melhor exemplo de grande tessitura, pois ele sozinho pode produzir todos os sons musicais que o ouvido consegue distinguir, apesar ser um instrumento que não possibilita o manejo da dinâmica e possui um timbre tenebroso e sombrio.




Atualmente estas são as quatro situações que as três claves podem aparecer, mas isto não significa que podemos nos eximir de conhecer e praticar as que estão em desuso. O bom músico conhece e mantém a leitura de todas elas em dia, pois sabe que isto melhora (e muito) seu desempenho e sua habilidade musical.